terça-feira, 19 de julho de 2011

Games don't make me violent. Stupid people do!

Olá, caríssimos! De volta à mesa de debate, venho com uma pergunta que, esporadicamente, vem à tona gerando uma série de discussões. Normalmente, os conceitos são passados de forma errada, a informação é manipulada pela mídia e a maioria absoluta da população aceita de bom grado cada palavra sem fundamento. Um bom exemplo é a recente reportagem exibida na rede record de televisão no programa "domingo espetacular", cujo link para o vídeo no youtube segue abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=wqbfADtkVAc
Como é de praxe, a reportagem exibe uma série de informações sem fundamento algum, consultando "especialistas", no mínimo, questionáveis, e pessoas com intenções suspeitas.
É interessante observar, por exemplo, o jovem Márcio Vinícius falando sobre a violência excessiva dos jogos do "amigo", o atirador do Realengo. Não tanto pelo que o jovem fala, mas porque o papel de parede do computador do qual ele faz uso é um personagem do jogo "Mortal Kombat", que, ao meu ver, é, simplesmente, o jogo mais violento de toda a história dos games. Seguindo a lógica da reportagem e do próprio jovem, seria interessante que as pessoas tomassem alguns cuidados perante o indivíduo, ou pode ser que ele resolva arrancar corações com as próprias mãos por aí.
A "especialista" Soraya Hissa de Carvalho, fala com convicção a respeito do aumento do déficit de atenção causado por estes jogos em jovens. Afinal, especialista em que?! Faço a pergunta porque veremos algumas evidências de que isto nada mais é que falácia, o que deveria ser evitado por uma pessoa com o mínimo de ética.
Não menos interessante é observar a mãe Solange Martins Coelho falar sobre a mudança no comportamento do filho, a qual ela observou à partir dos 12 anos de idade, o que, segundo ela, seria causado pelo uso destes jogos. Coincidentemente ou não, esta é uma fase denominada puberdade, na qual pessoas do mundo inteiro desde o estabelecimento da civilização, e, provavelmente, antes, apresentam mudanças de comportamento envolvendo vários fatores, inclusive, agressividade.
Como a maioria das reportagens básicas da tv aberta brasileira, esta não deixou de citar fatos correlatos aos casos e ignorá-los posteriormente na conclusão, influenciando os mais parvos. Os repórteres citam o diagnóstico de distúrbios psiquiátricos em ambos os casos mostrados, mas se esquecem deste fato na hora de afirmar com tenacidade que jogos violentos induzem jovens a cometer atitudes semelhantes.
Este conjunto de afirmações se depara com uma muralha de pessoas que seguem a ordem social comum a despeito do uso de jogos de tal natureza. Eu mesmo sou um exemplo disto. Já joguei todos os games apresentados e vários outros. Mesmo assim, não fui influenciado negativamente por eles e conheço toda uma comunidade que compartilha da mesma lógica.
Será que, mesmo com a baixíssima qualidade da reportagem e a atitude obviamente tendenciosa dos repórteres, a matéria exibida pela rede Record apresenta alguma verdade?! O que os jogos fazem em termos de neurociência comportamental? Pois bem, vamos às evidências científicas.
Agradeço, especialmente, ao pessoal do blog RPG VALE, que me levou à reportagem em questão em uma matéria muito interessante sobre o mesmo assunto, embora menos voltada à ciência. O link para a matéria em questão é http://www.rpgvale.com.br/2011/04/gamebloide-vencendo-o-preconceito-com.html
O título deste post é uma frase de camiseta do site www.linuxmall.com.br que achei muito interessante.
Um dos jogos mais criticados em termos do nível de violência, além de ser um dos pioneiros no estilo, é Doom, que foi tema de debates acalorados, principalmente, no início da década de 90. Vários foram os que tentaram censurar o jogo, afirmando que seu uso incitaria à violência. Entretanto, Karen Sternheimer, em 2007, observou que, após a criação do jogo, o índice de homicídio entre os jovens caiu em 77%, um contraponto interessante às afirmações mencionadas. Mas qual a explicação para a crucificação dos games violentos? A autora sugere que esta seria uma forma encontrada pela sociedade para explicar o aumento (ou pelo menos o aumento dos casos reportados) do número de tentativas de homicídios feitas pelos americanos brancos de classe média, que era o que se discutia na época. A sociedade desesperada clama por culpados deste aumento, sendo ele apenas aparente ou não. Ao longo do último século, pessoas culparam os carros, rádios, filmes, música (especialmente o rock) e revistas em quadrinhos (acrescento aí, por conhecimento próprio, o RPG, que é um jogo do qual também faço uso). Segundo a autora, políticos têm usado estes argumentos em campanhas que eles denominam como batalhas entre o "bem e o mal". Mas não seria isto apenas a criação de bodes expiatórios para a má administração pública no que tange à segurança?!
A autora cita ainda uma série de reportagens em jornais de prestígio, como o New York Times, afirmando coisas semelhantes ao que foi dito na reportagem da Record, embora isto tenha sido mais comum no fim da década de 90.
Não insistirei em citar os jornais com suas informações, pois, pela minha revisão, a afirmação segue sempre a mesma lógica: jogos do tipo mencionado (entre vários outros) foram encontrados entre os pertences dos potenciais homicidas. Mas não podemos deixar de observar que os mesmos jogos são material permanente nas prateleiras de diversas pessoas que não seguem o mesmo padrão sociopata. Portanto, este fator não consiste uma evidência. Tendo em foco apenas os games, as reportagens deixam de citar todo o background social dos atiradores, segundo a autora. É como pesquisar um acontecimento regido por uma série de variáveis, mas levar em consideração apenas a de interesse pessoal. Sendo assim, não podemos negar que alguns jornais têm deixado a ética de lado.
A maior dificuldade em estudar os efeitos dos games no comportamento está em isolar esta variável. O aumento da disponibilidade destes jogos é um reflexo da evolução tecnológica sofrida pela sociedade, que não deixa de ser acompanhada por diversas alterações de cunho distinto no modo de vida das pessoas. A estatística pode mostrar tantos resultados quanto forem os ângulos de observação e o englobamento de todas as variáveis parece ser impossível.
Os métodos mais comumente utilizados na experimentação são aqueles criados pela psicologia. Esta área tem como meio comum de pesquisa o questionário, para o qual as respostas, obviamente, dependem de cada indivíduo e, consequentemente, da experiência de vida anterior e das característica intrínsecas de cada um. Muitos pesquisadores questionam a eficácia destes métodos devido à subjetividade gerada pelas variações mencionadas. Mas os métodos continuam a ser utilizados.
Carnagey & Anderson, em 2005, chegaram à conclusão de que os games em que há recompensa por atitudes violentas aumentam as emoções hostis, o modo agressivo de pensar e o comportamento agressivo. No mesmo trabalho, os autores afirmam que games que apresentam violência, mas há punição quando da utilização desta, aumentam as emoções hostis, mas não os demais parâmetros analisados. Já os jogos que não apresentam violência alguma parecem não afetar qualquer dos parâmetros analisados. O método utilizado foi bastante interessante. Os autores criaram duas novas versões do game "Carmageddon 2". Na versão original há recompensa aos atos violentos. Atropelar pedestres, roubar carros e matar pessoas aumentam a pontuação do jogador. Uma versão em que há diminuição dos pontos adquiridos foi criada para analisar o efeito da punição aos atos violentos e uma outra versão foi feita, na qual o jogador não pode cometer estes atos violentos. A despeito do método interessante, a análise foi feita através de um questionário conhecido como "state hostility scale", onde a pessoa objeto de estudo faz uma auto-avaliação completando de 1 a 5 (sendo 1 = discordo plenamente; e 5 = concordo plenamente) uma série de emoções ligadas à agressividade. A média destes valores foi obtida pelos autores e comparada através de análise de variância, que por si só, já pode não ser o método estatístico mais interessante para esta comparação. Além disto, os autores analisaram apenas o efeito imediato após o jogo, o que não reflete necessariamente o comportamento do indivíduo em sociedade.
Alguns experimentos realizados com ressonância magnética nuclear funcional também foram realizados mostrando que o sistema límbico é, significativamente, mais vezes ativado durante a utilização de um jogo violento que durante o uso de um jogo não violento (Weber et al., 2006; vários são citados ao longo do artigo). Embora as conclusões apontam para uma correlação é importante lembrar que o sistema límbico está ligado às emoções de maneira geral, não apenas à agressividade. Um jogo que apresentam desafios, mas não emoções, há de ativar menos esta região mesmo não sendo necessariamente ligado à violência. As conclusões são, portanto, tendenciosas.
Ao contrário do que afirma a "especialista" na reportagem da rede Record, há evidências de que jogos deste tipo aumentam a capacidade cognitiva do usuário em diversos aspectos. Boot et al., em 2008, mostraram que pessoas submetidas a treinamento em Medal of honor: pacific assault, um jogo com cenas de violência, podem acompanhar objetos movimentando em maior velocidade que pessoas não submetidas ao treinamento. Da mesma forma, os jogadores detectam melhor as modificações feitas em objetos previamente expostos, demonstrando aumento da eficiência da memória de curto-prazo. Estas pessoas conseguem também de maneira mais eficiente trocar de uma tarefa qualquer para outra quando comparadas àquelas não treinadas. Outra característica interessante é que elas também podem detectar a forma correta de um objeto mentalmente girado mais eficientemente. Não há qualquer evidência que possa sugerir um déficit de atenção em jogadores de jogos violentos. Pelo contrário, o uso de jogos de ação, violentos ou não, tem sido sugerido como método de tratamento do déficit de atenção, sendo o que foi dito pela "especialista" em questão totalmente sem fundamento.

A pesquisa sobre os efeitos dos jogos no comportamento precisa melhorar muito para podermos realmente afirmar se a violência destes induz a agressividade ou não. As pesquisas que apontam esta indução são subjetivas e, na maioria, de péssima qualidade, de modo que não há como apontar efeitos negativos destes games com o conhecimento atual que temos. Efeitos positivos, por outro lado, ligados à cognição são muitos e solidamente observados em pesquisas de grande qualidade. Crucificar estes games é, no mínimo, imprudente.

Referências interessantes:
Sternheimer, K. 2007. Do Video Games kill? Contexts, Vol. 6, Number 1, pps 13-17. ISSN 1536-5042, electronic ISSN 1537-6052. American Sociological Association
Carnagey, N. L.; Anderson, C. A. 2005. The Effects of Reward and Punishment in Violent Video Games on Aggressive Affect, Cognition, and Behavior. Psychological Science. vol. 16, number 11.
Weber, R.; Ritterfeld, U.; Mathiak, K. 2006. Does Playing Violent Video Games Induce Aggression? Empirical Evidence of a Functional Magnetic Resonance Imaging Study. Media Psychology, vol. 8.
Boot, W. R.; Kramer, A. F.; Simons, D. J.; Fabiani, M.; Gratton, G. 2008. The effects of video game playing on attention, memory, and executive control. Acta Psychologica, 129.

Escrito por Rafael Augusto Silva Fernandes Campos

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Mais deduções baseadas em paradigmas antiquados

Caros leitores, primeiramente, quero, em nome do grupo, pedir desculpas pelo grande tempo sem publicações. Infelizmente, todos os integrantes estiveram excessivamente ocupados nos últimos meses, o que gerou a demora. Mas prometemos que isto não se repetirá.

Reiniciando as atividades, venho falar sobre o problema da confiança excessiva em velhos paradigmas. Em verdade, este erro se aplica também àqueles não tão velhos. É importante duvidar, meus caros. E a experiência mostra isto.
No ano passado, foi publicado um artigo, cuja referência se encontra ao fim deste texto, que analisa o conteúdo protéico de astrócitos após a utilização de morfina. Basicamente, uma cultura pura de astrócitos foi estabelecida e, durante 5 dias, foram aplicados 10 µM de morfina às células. O proteoma foi realizado através de eletroforese bidimensional combinada com nano-cromatografia líquida acoplada à espectometria de massa quadrupolo (armadilha de íons).
A análise dos géis revelou a alteração em 18 spots, que após analisados, foram identificados como nove diferentes proteínas. Houve aumento da expressão de chaperonas, proteínas do citoesqueleto e ligadas à biosíntese. Várias destas alterações já tinham sido relatadas quando houve estudo dos tecidos e as conclusões anteriores é que estas seriam variações neuronais. Certamente, o vício em diversas substâncias está ligado ao sistema nervoso, mas a aceitação do paradigma de que neurônios são responsáveis pelos processos complexos, principalmente ligados ao comportamento, culminou em um erro (e, certamente, em vários outros ao longo da pesquisa do sistema nervoso).
Além disso, foi demonstrado por Watkins e colaboradores (2007) que a indução de sintomas de abstinência é inibida na presença de AV411, um conhecido inibidor da atividade glial.

Mais uma vez, as células da glia surpreendem com participação considerável em processos considerados complexos e, normalmente, ligados à atividade neuronal.
Quantos erros não devem ter acontecido na história da ciência pela falta de dúvida?! Esta que deveria ser uma das maiores virtudes de um cientista: duvidar!

Referência:
The Proteomic analysis of primary cortical astrocyte cell culture after morphine administration; 2009 - Suder et al.; journal of proteome research
http://pubs.acs.org/doi/pdf/10.1021/pr900443r

Publicado por Rafael Campos

terça-feira, 25 de maio de 2010

A relação entre dados e a análise – Problemas frequentes

Uma das principais funções de um cientista é retirar informações dos dados obtidos visando confirmar ou rejeitar sua hipótese, para isso utilizamos à estatística.

A estatística é uma ferramenta cada vez mais essencial na vida de um cientista, independente de sua área. Isso pode ser evidenciado na quantidade de novos testes que surgem a cada ano, assim como no numero de periódicos dedicados a métodos em diferentes áreas. Com tantas opções diferentes, existe muita discussão sobre quais testes devem ser usados e as vantagens de cada abordagem, no entanto, erros básicos são cometidos ao dar tanta importância para seleção do teste.

Qualquer estatístico que se preze, assim que recebe os dados, parte logo para uma análise exploratória buscando avaliar a qualidade dos dados e identificar possíveis problemas para a análise. Zuur e colaboradores recentemente publicaram um artigo discutindo exatamente a importância da análise exploratória de dados e propuseram um protocolo interessante para realizá-la.

Não importa o campo que você trabalhe, se precisar testar uma hipótese esse artigo vai ser útil. Realmente vale à pena conferir.

Abaixo segue o link para o artigo (aproveitem que está de graça):

http://www3.interscience.wiley.com/journal/122683826/abstract?CRETRY=1&SRETRY=0

Leonardo Gedraite

Referências: Zuur, A. F., Ieno, E. N., & Elphick, C. S. (2009). A protocol for data exploration to avoid common statistical problems. Methods in Ecology & Evolution, 1(1), 1-12. doi: 10.1111/j.2041-210X.2009.00001.x.

O modo Drosophila de resolver conflitos de interesse na reprodução

Quando se trata de reprodução, quase sempre estamos falando não de um processo harmonioso e cooperativo entre os sexos, mas sim de um conflito de interesses entre machos e fêmeas em que cada um tenta obter o máximo possível de ganhos com o menor custo. As fêmeas, o recurso limitante em termos de reprodução para várias espécies, em muitos casos são promíscuas, levando a uma competição entre os machos e também culminando na evolução de mecanismos para conter a promiscuidade das fêmeas e aumentar suas chances de passar seus genes para a frente.

Assim, um macho pode tentar estimular a parceira a receber mais espermatozoides seus do que de outros ou ainda tentar se livrar dos espermatozoides dos rivais. Em algumas espécies de libélula, o pênis tem um bulbo com longas cerdas que os machos usam para retirar os esperma do interior da fêmea antes de depositar o seu. Nos zangões, o órgão genital que é arrancado ao final da cópula e fica enterrado no corpo da fêmea funciona como uma espécie de tampão que impede ou retarda um novo evento de cópula.

Já havia sido constatado que nas Drosophilas, um organismo modelo para a Genética, as fêmeas ficam menos receptivas e aumentam sua produção de ovos durante pelo menos cinco dias após o acasalamento. De modo impressionante, quando o fluido seminal de machos era injetado em fêmeas virgens, elas exibiam as mesmas respostas, só que por um ou dois dias. Assim, a hipótese era a de que algo no fluido seminal do macho poderia modular a atividade neuronal que controla o comportamento após a cópula no sentido de impedir o acasalamento da fêmea com um segundo macho.

Tendo isso em mente, uma equipe de pesquisadores austríacos triou o genoma da mosca em busca de genes que atuassem sobre neurônios para controlar a colocação de ovos. Eles identificaram cerca de uma centena de genes e, entre eles, um receptor de peptideos chamado CG16752. Outras pesquisas identificaram um peptídeo com 36 resíduos de aminoácidos no fluido seminal dos machos de Drosophila, chamado de sex peptide (SP), como sendo o produto proteico responsável por causar alterações pós-acasalamento nas fêmeas.

Quando fêmeas cujo gene para o receptor do sex peptide era silenciado por meio de RNA interferente eram cruzadas com machos normais, elas colocavam poucos ovos, se acasalavam novamente com frequência e não rejeitavam ativamente o segundo macho, o mesmo comportamento exibido pelas fêmeas com o receptor funcional que eram acasaladas com machos cujo gene para SP havia sido silenciado.

Este mecanismo desenvolvido nos machos para reduzir as chances de um novo acasalamento é particularmente interessante devido ao seu uso potencial no controle de insetos, mas outras possibilidades vêm à mente... se conseguíssemos sintetizar um peptídeo como esse para homens e implantar neles receptores para este “peptídeo da fidelidade”...

Postado por Amanda Oliveira

Referências

Chapman, T; Bangham, J; Vinti, G; Seirfried, B; Lung, O; Wolfner, M.F; Smith, H.K; Partridge, L. The sex peptide of Drosophila melanogaster: Female post-mating responses analyzed by using RNA interference. PNAS, v.100, n.17, pp.9923-8, 2003.

Kubli, E. Sex-peptides: seminal peptides of the Drosophila male. Cell. Mol. Life Sci., v.60, p.1689–1704, 2003.

Yapici, N; Kim, Y; Ribeiro, C; Dickson, B.J. A receptor that mediates the post-mating switch in Drosophila reproductive behavior. Nature, V.451, 2008.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Uma breve introdução ao mundo da Genética

Olá pessoal!

Seguindo o exemplo do Leo, vou me apresentar também. S
ou bióloga, formada também pela Universidade Federal de Lavras e sempre tive múltiplos interesses dentro da Biologia. Durante a graduação, tentei ter contato com várias áreas para estabelecer o meu perfil profissional. Intimada, ou melhor, convidada (!) pelo idealizador do blog, tentarei trazer à discussão assuntos interessantes abrangendo Genética, um pouquinho de Biologia Molecular e, como não poderia deixar de ser, Evolução.

Bem como a Ecologia, a Genética e principalmente a Biologia Molecular são ciências novas. O início formal da Genética se deu com os trabalhos de Gregor Mendel e suas ervilhas, em meados do século XIX. Mendel fez alguns experimentos com plantas de jardim e com abelhas, mas o sucesso de seu trabalho sobre a herança das características dos organismos teve muito a ver com a escolha das ervilhas como material experimental.


G. Mendel (1882-1884)

Das leis de Mendel até a Genética Molecular, muito em voga hoje em dia, muita água correu e muitos outros postulados foram somados ao corpo teórico da Genética. O DNA foi descoberto e a ele foram atribuídas as funções de armazenador
da informação genética e responsável pela transmissão das características hereditárias. Mostrou-se que diversos tipos de RNA estão envolvidos com tradução de proteínas e controle da expressão gênica. Cromossomos, hereditariedade, DNA, RNA, organismos transgênicos, mutações e, é claro, "genes", são palavras que estão constantemente na cabeça de um geneticista.

A Genética é abordada em diferentes níveis no dia-
a-dia da pesquisa. Por exemplo, o estudo de genes seguindo a herança de características em cruzamentos é chamado “Genética Clássica”; o estudo dos genes pelo sequenciamento do DNA e pelo estudo da expressão gênica é chamado “Genética Molecular”; o estudo dos genes pela variabilidade entre organismos é chamado “Genética de Populações”.


Fenômenos como a clonagem de organismos, a produção de transgênicos, o mapeamento de genomas e a possibilidade da realização de testes genéticos para doenças herdáveis em embriões e pré-embriões colocaram e têm colocado a Genética em foco. Perguntas como “isto é certo?”, “isto é seguro?”, “todos os aspectos da vida estão sob determinação genética?” e “isto pode c
ausar discriminação no futuro?” são recorrentes.

Bem, este é um convite para entrarmos no mundo da Genética e explorarmos suas possibilidades, discutindo tanto os aspectos difundidos e bem conhecidos do DNA & Cia como os mecanismos e fenômenos que ainda estão sendo elucidados e, claro, as exceções à regra que permeiam os meandros da Genética!



Postado por Amanda Oliveira

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Ecologia de Comunidades - Preview


Como me propus antes, vou começar uma série de posts sobre Ecologia de Comunidades, uma área que vem crescendo rapidamente e freqüentemente é confundida com outras abordagens que não tem ligação nenhuma com ela. Essa série temática “Ecologia de Comunidades” pretende dar uma definição desse campo do conhecimento, sua importância e aspectos gerais em uma abordagem descontraída e com linguagem mais popular, enfocando questões importantes que deveriam ser discutidas, mas não são. Durante esse período vou focar principalmente na minha visão sobre o tema, abordando aspectos que utilizarei no meu mestrado.

A ecologia é um campo do conhecimento novo e que entrou na moda recentemente, com isso sofre de alguns problemas, principalmente confusão com outras áreas e uma falta de “identidade” para o publico geral. Por isso vou passar rapidamente por alguns tópicos que merecem ser discutidos antes de nos aprofundarmos no tema, principalmente sobre o que NÃO É ecologia:

1- Confusão entre Ecologia e Ambientalismo: Ecologia é uma ciência e possui características teóricas e questionamentos próprios, dentre as quais não está salvar o planeta, mico-leão dourado, ultimo Dodô ou outra espécie bandeira. Sinto informar, mas não usar sacolas plásticas não tem nada a ver com ecologia.

Nesse blog não pretendo discutir desenvolvimento sustentável (nem outros mitos como políticos honestos, Ufos ou papai Noel), como salvar as baleias ou permacultura. Ecologia não tem nada a ver com isso! Pronto BG´s podem ir embora.


Fonte: GraphJam.çom


2- O mito da Ecologia como ciência “fácil”: Como a ecologia é recente e aborda assuntos que são mais comuns ao publico geral: Afinal é mais fácil entender sobre as relações entre um passarinho e uma árvore do que sobre quarks, certo?!

Vemos esse preconceito até mesmo em estudantes de graduação, que acham ecologia uma matéria fácil comparada a outras como bioquímica ou genética.

Com essa situação a ecologia tem sofrido um grave problema: Pessoas que não tem base nenhuma sobre o assunto aparecem disparando opiniões sem pé nem cabeça por aí. Não me entenda mal, a ecologia não é uma matéria difícil e extrema, porem como toda a ciência ela tem um corpo teórico que deve ser estudado e compreendido para analisar os problemas de interesse.

3- Ecologia é uma ciência nova: A ecologia é uma ciência recente que lida com assuntos que são e já foram abordados em outras áreas (como zoologia, geologia, botânica) com isso ela acaba se misturando com outras ciências e não tendo uma cara própria. Afinal vai explicar para alguém que você trabalha com modelos de biogeografia de plantas em ilhas, mas você não está interessado nas plantas “em si”.

Alem disso existe um jargão (conjunto de termos técnicos) usado na ecologia que é confuso, pois é a junção de diversos jargões de outras áreas sendo que muitos termos foram e são aplicados para definir mais de um conceito. O próprio conceito de ecologia de comunidades reflete isso, como veremos em breve.

Wallace um dos naturalistas do séc. XIX que contribuiram na origem da Ecologia


O importante é termos em mente que existe essa confusão e termos certeza que estamos pensando na mesma coisa ao nos referirmos a ecologia. Segue um conceito pessoal sobre ecologia: A ecologia é uma ciência que busca entender as relações entre os seres vivos e destes com o ambiente que eles existem, os padrões que surgem dessas interações e os mecanismos que geram e mantêm esses padrões.

Em breve continuarei a discussão com a definição de ecologia de comunidades e alguns problemas que merecem ser discutidos. No meio tempo alguns aspectos pedem uma reflexão: Existe um conceito para ecologia? Porque existe essa barreira entre o mundo científico e a população geral? Como conceitos simples se transformam em coisas completamente diferentes ao serem disseminados?

Cheers

Leonardo Gedraite

Introdução parte III - O início

Olá a todos

Como o blog já começou a todo-o-vapor com diversos posts sobre áreas específicas, vou usar uma outra abordagem: Antes de começar com uma série de posts mais específicos gostaria de “inaugurar” o blog e me apresentar!

Esse pequeno espaço virtual surgiu da junção de uma idéia maluca e uma necessidade profissional: Como cientistas, precisamos dominar diversos tipos de técnicas como: planejar experimentos, analisar dados, escrever e divulgar nossos resultados, no entanto nossa formação geralmente é falha em alguns aspectos, principalmente na hora que temos que escrever e divulgar os resultados. No entanto escrever e a maneira de se expressar são essenciais para uma boa divulgação dos resultados (e conseguir citações ^^).

Tendo em vista essa necessidade surgiu a idéia maluca: Resolvi criar um blog para exercitar a escrita e a “expressão de informações”. Porem como todo o conhecimento fica melhor quando discutido por várias cabeças, resolvi chamar dois grandes amigos em situação similar para sofrerem juntos: Amanda e Rafael. Eis que surge o tavola triangulare.

Esse blog tem o objetivo de ser um espaço para discutirmos assuntos relacionados às ciências biológicas e vida acadêmica de maneira geral, visando divulgar artigos interessantes, discutir assuntos polêmicos ou simplesmente o que nos der “na telha”.

Deixando esse objetivo claro parto para minha apresentação: Sou um biólogo formado pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), no início da minha graduação trabalhei com citogenética vegetal e mutagênese, porem acabei me voltando para ecologia no final do curso e conclui o curso trabalhando com ecologia de comunidades de anfíbios.

Atualmente faço mestrado no curso de pós-graduação em Biologia Animal na UNESP de São José do Rio Preto e continuo trabalhando com ecologia de comunidades de anfíbios, agora com girinos. Interesso-me principalmente pela Herpetologia (estudo de répteis e anfíbios) e Ecologia de Comunidades, que são as áreas que pretendo discutir mais aqui. No entanto quando der vou falar rapidamente sobre biogeografia, evolução, etologia, estatística, taxonomia de anuros e filosofia da ciência.

Então sejam todos bem vindos. Podem puxar um banco e sentar-se nessa mesa para discutirmos biologia.

Leonardo Gedraite